A história do Brasil Colônia é rica em contrastes, e um dos aspectos mais marcantes é a precariedade da higiene nas cidades. Antes e durante a chegada da corte portuguesa, as ruas das vilas e cidades brasileiras eram cenários de sujeira e desorganização.
A Ausência de Saneamento Básico: Um Problema Crônico
Um dos principais problemas enfrentados nas cidades do Brasil Colônia era a completa ausência de saneamento básico. Não havia sistemas de coleta de esgoto, tratamento de água ou destinação adequada do lixo. As cidades eram um verdadeiro depósito de resíduos, onde tudo era descartado nas ruas. As pessoas jogavam pela janela "a água suja, as lavaduras da cozinha, as urinas, os excrementos acumulados de toda a família". A falta de latrinas nas casas agravava a situação, com os rios sendo usados para o despejo de dejetos.
A Imundície nas Ruas e a Proliferação de Pragas
As ruas das cidades eram descritas como sujas, estreitas e malcheirosas. A falta de limpeza era evidente, com a imundície presente em todos os lugares. Em vez de coleta de lixo, urubus e animais vadios perambulavam pelas cidades em busca de restos de comida. A combinação de lixo e dejetos nas ruas era um prato cheio para a proliferação de pragas, como ratos, baratas, piolhos e outros insetos. Os ratos, em especial, eram uma presença constante, invadindo casas e estabelecimentos.
O Trabalho Insalubre dos "Tigres" e a Coleta de Esgoto
A coleta de esgoto era feita de maneira precária por escravos, conhecidos como "tigres". Eles carregavam grandes tonéis de dejetos nas costas, transportando a urina e as fezes para serem despejadas no mar. O trabalho era extremamente insalubre e parte do conteúdo frequentemente vazava sobre eles. Esse sistema, além de degradante, contribuía para a contaminação das ruas e do ambiente.
Os Hábitos Pouco Higiênicos da População
Além da falta de saneamento, os hábitos de higiene da população também deixavam a desejar. Os viajantes estrangeiros se surpreendiam com o costume de cuspir em público, a falta de limpeza das residências, a falta de cuidado com a higiene pessoal. Muitos moradores resistiam a quaisquer mudanças em seus costumes.
A Corte e a Higiene: Um Contraste Chocante
A chegada da corte portuguesa não trouxe melhorias imediatas. A própria família real não era conhecida por seus hábitos de higiene. D. João VI era descrito como desleixado com a higiene pessoal e avesso ao banho, assim como sua esposa, Carlota Joaquina. Relatos afirmam que Carlota Joaquina chegou a ter que cortar os cabelos devido a uma infestação de piolhos.
As Medidas de Melhoria: Um Primeiro Passo
Com a chegada da corte, algumas medidas foram tomadas para melhorar a higiene no Rio de Janeiro, lideradas por Paulo Fernandes Viana, o intendente geral da polícia. A cidade começou a ser aterrada, os pântanos foram drenados, as ruas foram calçadas e iluminadas, e foram construídos aquedutos e fontes. Essas reformas, no entanto, eram vistas como de fachada e não resolviam os problemas mais profundos.
A Resistência às Mudanças e a Continuidade dos Problemas
Apesar dessas melhorias, a resistência às mudanças era grande. Muitos moradores da colônia continuavam com seus hábitos pouco higiênicos, e a falta de limpeza nas casas e ruas persistia como um problema evidente.
As Preocupações dos Médicos e as Propostas de Saneamento
Os médicos da época também se preocupavam com a falta de higiene nas cidades. Domingos Ribeiro dos Guimarães Peixoto defendia um saneamento radical da cidade, e Manuel Vieira da Silva propunha o aterro de pântanos, o escoamento das águas e a organização do comércio de alimentos. Eles também defendiam a criação de cemitérios para evitar a propagação de doenças através de enterros nas igrejas.
O Impacto da Escravidão na Higiene Urbana
A presença de escravos nas cidades também impactava a higiene. Muitos escravos eram responsáveis pela coleta de dejetos e outros trabalhos insalubres, que contribuíam para a sujeira nas ruas. As más condições de vida dos escravos também eram um problema de higiene pública.
Considerações Finais
Em suma, a higiene nas cidades do Brasil Colônia era extremamente precária, refletindo a falta de saneamento, hábitos pouco higiênicos e uma cultura que negligenciava a limpeza. A chegada da corte trouxe algumas melhorias, mas a transformação da higiene urbana era um desafio complexo e de longo prazo. As ruas, em vez de serem espaços de convivência, eram cenários de sujeira e doenças, marcando um período onde a falta de higiene era um problema tão evidente quanto a desigualdade social.
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